Por: MICHEL CREUZET
(23 de março de 1923 – 17 de agosto de 1986)
MICHEL CREUZET nasceu em Saint-Etienne no dia 23 de março de 1923.
Foi um dos mais antigos membros da Cité Catholique e um mais fieis
colaboradores de Jean OUSSET. Fez parte da linha de frente do antigo "Ofício
Internacional das Obras de Formação Cívica e de Ação Cultural segundo o Direito
Natural e Cristão", ao lado do já citado Jean OUSSET, Gustave TTHIBON,
Jean MADIRAN, entre outros. É autor de ensaios que não perderam em nada a
atualidade, como, por exemplo, o que escreveu sobre os Corpos Intermediários. O
excerto que ora apresentamos aos nossos leitores é de interesse universal. Em
todos os países o problema da família e, por conseguinte, da educação familiar,
é dos mais inquietantes, mormente após a Revolução da Sorborne, de maio de 1968,
com o seu pernicioso lema "é proibido proibir", que parece ter
atingido o seu cume na hora presente com legislações que prescindem de qualquer
valor moral e religioso com o fito sobrepujar a Lei Natural atribuindo
legalidade ao divórcio e uniões sodomitas. Assim, Creuzet nos mostra que cumpre crer,
afirmar e reagir desassombradamente contra os erros de uma sociedade envilecida
pelos falsos princípios que a estão levando à ruína.
Desde
sua concepção, a criança é parte integrante da comunidade familiar. O título ao
qual tem direito em primeiro término é o "filho". Com seu sobrenome
os pais outorgam à criança o sinal mesmo de sua individualidade: seu nome. O
desenvolvimento físico de um pequeno animal é mais rápido que o da criança.
Muito cedo corre e procura seu alimento e logo abandona seus pais que se
desinteressam por ele em seguida.
Como
todos sabemos, não ocorre o mesmo com o gênero humano; a mãe ensina seus filhos
a caminhar, falar, alimentar-se, vestir-se. O despertar de um espírito tem por
centro a família. Normalmente é nela onde se elaboram os primeiros
conhecimentos. Ali se adquire o sentido das realidades, da qual o jovem terá
tanta necessidade no momento de sua formação intelectual. Ali se adquire
normalmente o amor a verdade. Assim, os pais dignos deste nome fazem guerra à
mentira. Não toleram uma visão puramente subjetiva das coisas, donde os sonhos
transformam a realidade. Assim, há razões para surpreender-se, quando os pais
proclamam: "meu filho maior é católico, a menor é budista e o terceiro
acaba de entrar no partido comunista". Cada um encontrou sua via naquilo
que acredita ser a verdade. Este indiferentismo revela uma ruptura entre o que
os pais hão ensinado ao filho e o que aceitam logo dele. Imaginemos uma família
na qual cada criança siga "o que acredita ser justo", donde alguns
tiveram o sentido do bem e do mal, enquanto que outros julgam a moral
"depassée" (superada, passada de moda). É esta inconsistência de
principio o que tais pais e mães julgam saudável. Por veleidade a família
capitula frente a suas responsabilidades. Veem-se logo as tristes
consequências.
Se o
uso pleno da razão fosse dado à criança de 10 anos, talvez poderia alguns
contentar-se em mostrar-lhes a hierarquia dos bens e deixar a sua livre escolha
o cuidado de decidir entre eles. Isto, que é já presunçoso nos adultos, como
não o seria então nessa criança que carece de maturidade?
Não
se joga ao vento a planta delicada, débil, sem raízes. Os pais têm que conduzir
seus filhos na mão.
No
entanto, a educação familiar exige uma preocupação cotidiana. O menor escândalo
pode ter repercussões futuras profundas. Quantas vidas são perturbadas por
causa do mau exemplo de pais desunidos, divorciados ou que, por covardia,
deixam ao alcance da criança não importa qual seja a leitura ou ver não importa
qual espetáculo, frequentar não importa que círculo de amizades.
Reduzir
a educação familiar a vigiar as manifestações criadoras do jovem prodígio sem
desapontá-lo sob pena de "complexos" e "regressões" é um
engano e um crime. Um engano, pois padecerá sempre influências: não se cultiva
uma planta sem água nem calor. É um crime, pois a realidade se inscreve contra
o mito da criança naturalmente boa. Não forçar o espírito, a vontade da criança
no sentido do bem, é abandoná-lo a seus instintos e inclinações mais baixas,
que prontamente o dominarão.
É
deixar lugar as influências más sobre as boas. Não se deixa a um filho beber
veneno, nem brincar com armas carregadas. E deixá-lo então desarmado, sem juízo
retor, nem vontade firme, presa das múltiplas tentações?
A
educação familiar não se limita apenas em produzir "elementos bons"
dentro da sociedade para os distúrbios nas ruas. "A natureza não contempla
só a geração da criança, senão também seu desenvolvimento e seu progresso para
levá-lo ao estado perfeito de homem, é dizer, no estado de virtude”.
1. Atitudes,
direitos e deveres naturais dos pais na educação de seus filhos.
Orientadores,
psicólogos, docentes, médicos, escolas especiais aportarão aos pais um concurso
precioso. No entanto, eles não substituirão a educação familiar.
"Que
educador, escreve Chesterton, haverá seguido, como os pais, a criança desde o
berço e terá tempo de fazer um justo discernimento das inclinações do espírito e
das aptidões particulares de cada aluno? Terá por acaso a perspicácia e o amor
de uma mãe?
"Os
pais são insubstituíveis. Buscai o educador oficial que tenha o gosto, o tempo
livre, a atitude que exige esta lenta iniciação do espírito, do coração, da
consciência, que se opera no lar, ainda assim quando esta oficina da vida não
proporciona mais que um mínimo de recursos (...). Esses truísmos são verdades e
terminará por voltar sobre eles, pois substituindo os pais por espécies de
funcionários, não se terá encontrado mais que encontrará no se ha encontrado
más que uma tampa que não chega tampar o buraco".
"É
simplesmente prescindir de uma força natural e pagar por uma artificial, como
se um homem regasse uma planta sustentando com uma mão uma mangueira e com a
outra um guarda-chuva para resguardá-la da chuva. Mas isso não dará nenhum
resultado, nem sequer em teoria. Não se pode fazer sempre a limpeza dos outros;
é na família onde se lava a roupa suja, sobretudo quando se trata de fraudas.
Só os pais poderão dar a seus filhos suficiente solicitude e cuidados. A
expressão "abnegação maternal" aplicada a uma mulher que vê passar
sem trégua os filhos por suas mãos, não é mais que uma amável metáfora".
No
entanto se dirá: Se os pais são torpes, ignorantes da ciência pedagógica,
enceguecidos por um afeto mal entendido? Ainda nesse caso terão sobre os
pedagogos mais sábios e melhor preparados uma vantagem, a do amor aos próprios
filhos e o amor por si só.
Quantos
excelentes mestres romanos se cansaram do aluno Agostinho, quantos
"orientadores" profissionais não souberam onde dirigi-lo, ao passo
que a paciência, as orações, as lágrimas e o amor maternal de Santa Mônica o
levaram a mudar de vida, fazendo dele um grande Filósofo e um Padre da Igreja!
Falamos
de excelentes mestres, de honestos orientadores; não há necessidade de falar de
excelentes mães. Que mãe normal não houvera intentado o que Mônica alcançou?
Inversamente,
os pais indignos escandalizam a opinião. Mas se fala pouco de antros de
educação indignos. Em todo caso, isso surpreende menos, porque o laço com a
criança é menos estreito, normalmente, que na família. A educação no lar
apresenta vantagens. É continua; os pais menos dotados fazem pedagogia, mesmo
que sem saber, porque o amor de seus filhos os leva naturalmente a
compreendê-los, a resolver seus problemas, a ajudá-los em tudo que podem.
A
educação familiar é pessoal. Conhece-se a cada um dos filhos com suas
qualidades, com seus defeitos e suas reações habituais. Como professores
desbordados poderiam educar os seus alunos, um por um, como em uma família,
ainda que com sua capacitação e com sua abnegação?
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Fonte: La enseñanza. Buenos Aires:
Ediciones del Cruzamante