sexta-feira, 14 de março de 2014

A invasão dos bárbaros no Templo




RAFAEL GAMBRA CIUDAD
(Madri, 21 de julho de 1920 - 13 de janeiro de 2004)

 

“Em nossos dias podemos ver sacerdotes e guardiões do Templo santo se unir à turba dos incendiários da Cidade e dedicar-se de forma desenfreada na demolição do patrimônio sagrado que eles receberam como depósito, como função. E assim os vemos hoje se empenharem na ‘desmistificação’ da fé, na ‘dessacralização’ do culto e outras iniciativas contraditórias, ao mesmo tempo em que definem a religião e a Igreja como ‘um serviço à Humanidade’. A promoção de uma vaga fraternidade humana, da paz, do desenvolvimento econômico, do bem-estar social e da igualdade são os objetivos explícitos de uma religião apenas de nome e de modo vergonhoso. À imagem ideal do monge macilento e ascético substituiu-se como paradigma a do clérigo ‘eficaz’ e ativo, com grossa maleta embaixo do braço. Mas, se a primazia da ação encerra a Cidade humana em um círculo sem saída em cujo centro sorri o Diabo do Fausto, quando essa mesma primazia é aplicada ao Templo o efeito é ainda maior: se o esvazia de sua substância mesma e realidade. O Templo já não é lugar de contemplação senão de ruído e de subversão, simplesmente porque já não é templo. Assim como a chamada sociedade de consumo e do transporte fácil origina uma atmosfera irrespirável, assim a corrupção do Templo torna impossível a oração pessoal, que é como a respiração da alma. A ruína total e definitiva da antiga Roma se resumiu sempre ‘na entrada dos bárbaros no Capitólio’, quer dizer, no templo supremo da Urbe. Nossa civilização não perece por bárbaros e estrangeiros, senão que produz ou destila de si mesma seus próprios bárbaros. Em nossos dias se tem produzido a invasão destes bárbaros imanentes no Capitólio ou santuário de nossa Cidade, que é a Igreja Católica. Por isso não se trata de uma destruição exterior, a sangue e fogo, senão de uma autodemolição obstinada, silenciosa”.

Fonte: Revista Verbo, “Sentido cristiano de la accion”, ns. 119-120, 1973, pp. 961-962.

terça-feira, 11 de março de 2014

ELEGÍA A LA TRADICIÓN DE ESPAÑA

JOSÉ MARÍA PEMÁN (1898-1981)


Elegía a la tradición de España

Me duele España en mí, como si fuera
carne en mi carne: siento
como el temblor de un viejo tronco al viento
o el desasirse de una enredadera.

Ramas tronchadas de una primavera,
siento en mí los sentires más amados
como Cristos manchados
de sangre y de saliva:
¡y me duele en el alma, en carne viva,
la mella de los siglos arrancados!

Yo no soy luz que brilla
pasajera entre nubes, ni lamento
perdido en soledad, ni hoja amarilla
danzarina de otoño sobre el viento:

no es una pluma en el azar mi vida
ni soy un punto, solo, sin medida
ni dimensión, que encierra
en sí mismo su ser todo agotado.
Todo en mí, carne y luz, lo han amasado
los muertos y la tierra:
las dos roanos fecundas del pasado.

Yo soy un alma amiga
de otras almas que fueron mis iguales:
rojo coral en banco de corales,
gota de un mar y grano de una espiga.
Mis ansias y sentires terrenales
no son silvestres rosas
nacidas, sin semillas, en mi pecho...
¡Yo soy lo que me han hecho
los siglos y las cosas!