MARCEL DE LA BIGNE DE VILLENEUVE
(1889-1958)
"Satan dans la Cité"
"A
guerra é sem trégua e sem piedade entre a Revolução e os que permanecem fiéis a
Deus sobre a terra, porque a Revolução é uma tentativa de organização do mundo
sem Deus e contra Deus. É o mais formidável dos erros. É a heresia total".
(Pe. Charles Maignen. "La souveraineté du Peuple est une hérésie")
Em
relação ao ponto que tocamos, a heresia é flagrante e fora de dúvida. Pois a
soberania do povo é incompatível com o dogma do pecado original e da mancha
primitiva do homem. Se, com efeito, o mal existe no homem desde o seu
nascimento, se o homem traz em si más tendências que não podem ser combatidas
nem freadas senão pela graça e uma autoridade esclarecida, como ensina o
cristianismo, é absurdo proclamar o homem incondicionalmente soberano e
independente. É o que proclamam em alta voz Jean Jacques Rousseau e todos os filósofos
ou doutrinadores da revolução. É o que, seguindo seus passos, reconhecia faz
pouco tempo Edouard Herriot, como postulado fundamental: “A democracia tem por
fundamento um grande ato de fé na bondade da ‘natureza humana’”.
Contra o dogma
do pecado original, a soberania do povo erige, pois, o da bondade e o da
retidão naturais, da “imaculada concepção” do homem, segundo a célebre expressão
de Blanc de Saint-Bonnet.
A
soberania do povo permite que Lúcifer se levante novamente contra a ordem divina
e satisfaça ao mesmo tempo seu espírito de vingança e sua eterna malícia. Com a
reivindicação da “imaculada concepção” do homem visa descontar a decadência que
seguiu a falta de nossos primeiros pais. E o Tentador evidentemente experimenta
uma sutil satisfação ao renovar para nós a queda primitiva, fingindo querer nos
livrar de suas conseqüências e ao fazer cada um de nós tropeçar como nosso
primeiro pai e pelo mesmo motivo. Pois a causa e o estimulo da rebelião original
foi a soberba: “Sereis como deuses!” A afirmação da soberania individual e
popular procede da mesma tendência; está marcada intrinsecamente pelo mesmo
vício; não se poderia admiti-la nem tampouco praticá-la sem dar provas de uma vaidade
ao mesmo tempo criminosa e cômica e de uma insurreição deliberada contra a
ordem das coisas tal como foi estabelecida por Deus em castigo a falta e, por conseqüência,
sem incorrer em uma nova pena.
A soberania
do povo é satânica enquanto pretende expulsar Deus da sociedade e proclamar
contra Ele os falsos Direitos do Homem, exatamente como Lúcifer pretendeu
substituir a Deus no Céu e proclamar contra Ele os falsos direitos dos anjos
rebeldes.
É satânica
enquanto nega explicita e insidiosamente os dogmas essenciais da fé cristã: o
da queda original e da mancha radical do homem e o de que toda autoridade
reconhece sua fonte exclusiva, sua regra e seus limites em Deus.
É satânica,
por conseguinte, enquanto baseia toda organização política e social na
insubordinação e na soberba e faz deste pecado, pai de todos os vícios, a mola
propulsora de toda atividade das nações.
É a heresia de nossa
tempo, dizia o Cardeal Gousset, que se fez um bom profeta. Será tão daninha e tão
difícil de extirpar como o jansenismo. Será mais ainda, pois ultrapassa
imensamente em malícia e extensão.
***
Fonte: Satan en la Ciudad. Buenos Aires: Editorial Nuevo Orden, 1965, pp. 86-89.
Tradução: Fernando Rodrigues Batista
Tradução: Fernando Rodrigues Batista
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