ÉTIENNE GILSON
(13 de Junho de 1884 - 19
de Setembro de 1978)
"(...)
a situação presente dos cristãos se assemelha mais e mais à dos primeiros
cristãos que lutaram por sua fé em um Império Romano cujas forças se conjuravam
todas contra eles. Não estamos somente situados numa sociedade cuja alma não é
mais cristã, mas cuja forma mesma não o é mais. Nem nossa moral pública se
acorda com a que o Estado tolera, nem nossa moral privada com a que se pratica
em torno de nós (...) Não vivemos como os outros, porque de um país onde a
pornografia faz viver tantos jornais, onde o nudismo se extravasa dos teatros
para as bancas das ruas, onde os crimes mais revoltantes são cotidianamente
absolvidos pelos júris dos cidadãos honestos que os julgam em sua alma e
consciência, onde todas as formas de exploração industrial, comercial, bancária
se expõem à luz do dia – poder-se-á dizer tudo que se queira, salvo que ele
representa, mesmo aproximadamente, a imagem de uma sociedade cristã. Mas o mais
grave é que não vivendo como os outros, nós não pensamos mais como eles. Isto é
o mais grave, porque de todas as rupturas é a mais profunda. A desordem moral
não é privilégio de nossa época; ela existiu sempre, mesmo na Idade Média; mas
então ela era considerada como uma desordem, enquanto em nossos dias
pretende-se instalar como a ordem mesma. Não é o fato de sua ocorrência o que
nos deve espantar; é o fato de que progressivamente ela se faz legalizar. Por
outro lado, nada se lhe opõe; desde que o Estado não reconhece nenhuma
autoridade espiritual acima dele, não tem outro recurso senão o de
laissez-faire ou de decretar uma moral em seu proveito."
Fonte: Etienne Gilson, Pour un Ordre Catholique. Citado em “Laicismo e Universidade”, Revista A Ordem , novembro
de 1950
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