GUSTAVE THIBON*
(02 de setembro de 1903 - 19 de janeiro de 2001)
FOME
DE FELICIDADE: Santo Deus, o que ai vai de ambições! Queres isso, aquilo e mais
aquilo. Muito bem. Mas já pensaste em saber se mereces que todas essas coisas
te queiram a ti? Desunhas-te na recolha da felicidade. Procura antes tornar-te
digno de ser escolhido pela felicidade. Quando fores suficientemente puro,
verás como a felicidade te segue por toda a parte: por mais que lhe fujas, ela
irá ter contigo, onde quer que te encontres.
VAZIO
INTERIOR: Um homem exaure-se na medida em que não existem, para ele, seres ou
coisas insubstituíveis. Faz lembrar um buraco que se cuidasse poder tapar seja
com o que for, e que o essencial é tapado. Daí, e paralelamente, a maré alta do
vazio interior e da paixão pelo dinheiro. Desde o instante em que se pensa que
nada do que se ama é insubstituível, logo se acredita que basta ter dinheiro
para tudo substituir.
OBEDIÊNCIA
E SERVIDÃO: Não se foge a obediência, senão para cair na servidão. Afliges-te,
vendo de que é que os homens são escravos? Se queres a chave deste
"mistério de abjeção", procura ver a quem é que eles fogem de servir.
O homem não escapa à autoridade das coisas do alto, que o sustentam, senão para
cair na tirania das coisas de baixo, que o devoram.
Noli
judicare - etiam teipsum. - Vede estes homens. O que sofrem e porque sofrem.
Ora, o azedume, de que dão provas, tem uma origem. É que passam o tempo a
comparar-se com os outros. Este jogo entusiasma-os. Mas também os irrita e
desmoraliza. Quando aprenderão, finalmente, a considerarem-se único, e não a
julgarem-se em comparação com os outros? Seria esta a aurora da verdadeira
humildade. Para que precisas tu de te confrontar com os teus irmãos? Não te
basta saberes que é filho de Deus?
A
inferioridade natural não é mal nenhum. A desordem começa onde começam o
orgulho e a ambição. Quem é humilde ama a sua miséria, sem que para isso
precise de a dourar. Não se perturba, por se ver inferior aos outros. Porque é
humilde, não tem no coração qualquer ídolo a defender, com o falso verniz das
ilusões, contra o fulgor incoercível da verdade.
Ser
humilde é viver a própria independência em relação ao ser exterior. É sentir-se
alegremente oferecido, doado, entregue à realidade extrapessoal. É prestar para
alguma coisa, no mundo. É viver para além das próprias diversões. A vontade do
humilde situa-se, por conseguinte, sob o signo da liberdade e do Amor. Em vez
de se fechar no seu próprio egoísmo, o "eu" do humilde abre-se
livremente para o Amor
*Nota: GUSTAVE THIBON (02 de setembro de 1903 – 19 de janeiro de 2001),
foi autodidata genial, nasceu em Saint-Marcel-d'Ardèche (França) onde foi
sempre lavrador. Não foi um homem de diplomas e títulos. Estudou por si só o
grego e o latim, os "Diálogos" de Platão e a filosofia de
Aristóteles, a "Suma Teológica" de Santo Tomás. Deu-nos páginas
luminosas de "Diagnósticos de Fisiologia Social", "O que Deus
uniu", "A Escada de Jacob" e outros volumes de aforismos
penetrantes, que são como flechas agudas atiradas para todos os lados. Poucos
como ele compreenderam tão profundamente o homem e a mulher, o amor humano e o
casamento. Thibon foi o testemunho que se ocultou para deixar brilhar a verdade
em todo o seu esplendor. Ele mesmo disse: "Eu não aspiro a iluminar os
homens com a minha lanterna: minha única ambição é ajudá-lo a melhor contemplar
o sol".
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