quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

O QUE É O LIBERALISMO CATÓLICO?

MONSENHOR LOUIS-GASTÓN DE SÉGUR
(1820-1881)

A doutrina católico-liberal, que em sua quintessência é a doutrina revolucionaria de 1789, estabelece como princípio e como coisa senão excelente, quando menos muito boa, a separação da Igreja e do Estado, a qual consiste na independência absoluta da sociedade civil que não reconhece a lei divina, a religião revelada e a santa Igreja. Jesus Cristo nos deu o Papa e os Bispos com esta missão: “Ide e ensinai a todos os povos a observância de minhas leis. Eu estarei convosco até a consumação dos séculos”. Os católico-liberais restringem esta missão aos interesses privados de cada cristão em particular; negam ao Soberano Pontífice e aos Bispos o direito de ensinar aos governantes assim como aos súditos, e o de velar para que Jesus Cristo Reine, sem obstáculos, nas instituições públicas e nas leis, dando desta maneira a conveniente direção às sociedades.
Por fim a doutrina católico-liberal desconhece e altera profundamente as relações entre a autoridade e a liberdade, tais como Deus as estabeleceu e conforme a sua Igreja está encarregada de ensinar-nos e de proteger. Altera profundamente a doutrina católica sobre a autoridade em proveito da liberdade, e esta é a razão porque se chama liberal.
Segundo a Igreja a autoridade é o poder ativo estabelecido por Deus para fazer respeitar e executar a lei: segundo o catolicismo liberal, a autoridade é o poder passivo encarregado de amparar com igual proteção a fé e a heresia, a verdade e o erro, o bem e o mal. Com tal que não seja perturbada a ordem material, não deve sair em defesa de Deus e contra o demônio.
Segundo a Igreja, a liberdade é o poder concedido a todos e a cada um em particular de cumprir sem obstáculos a vontade de Deus e seu próprio dever: segundo o catecismo liberal, a liberdade é faculdade concedida a todos e a cada um, de fazer o mal assim como se faz o bem com tal que não altere a ordem material.
Para Jesus Cristo e sua Igreja, a autoridade é o poder que protege o bem e o faz reinar: para o demônio e a Revolução, a autoridade é o poder que protege o mal e lhe faz reinar; para os católicos liberais, a autoridade é um poder indiferente ao bem e ao mal, a quem protege igualmente. De igual sorte para a Igreja a liberdade é o poder de fazer o bem sem trava alguma; para a Revolução é o poder de fazer o mal também sem travas, e para o catolicismo liberal é o poder de fazer o bem ou o mal indiferentemente.
Assim, pois, esta dupla noção de autoridade e da liberdade que tem a doutrina católica e o sistema liberal, se manifesta ostensivamente em suas respectivas obras influindo poderosamente na religião, na ordem social e política, na legislação, na jurisprudência, na educação e na família.
E é por isso mesmo que a doutrina católico-liberal se estende a tudo. Os erros que contém produzem grave dano e suas consequências práticas são incalculáveis. Desvirtua e falseia a noção essencial da autoridade e da liberdade, sobre cuja noção descansam como sobre sua base a ordem religiosa, a ordem civil e a doméstica por completo.
 Em seus princípios se encerra o germe de uma grande heresia; mas afortunadamente devemos esperar que a Santa Sede ou o Concílio ecumênico, não tardarão em lançar raios de um vigoroso anátema sobre um erro que despreza tantas advertências, e que tende nada menos que a servir de ajuda à Revolução em sua obra de destruição universal.
Assim é que a doutrina católico-liberal é uma alteração sistemática da verdade, da fé e do direito: é uma alteração também sistemática das relações da Igreja com a sociedade civil; e uma negação mais ou menos pronunciada do direito concedido por Deus à Igreja de dirigir espiritualmente aos governos e as sociedades e de inspirar as leis e as instituições publicas; é por fim uma alteração igualmente sistemática da doutrina da Igreja sobre a autoridade e a liberdade.
 
(...)   
 
O que é o liberalismo católico? O que é o catolicismo liberal? É um sentimento falso e perigoso; é um partido importante, ativo, empreendedor, que conspira de fato contra a Igreja e contra a sociedade civil e serve, sem querer, à horrível causa da Revolução; é uma doutrina falsa e muito perniciosa, geradora de heresias e revoluções. O catolicismo liberal é o catolicismo manchado de liberalismo com ideias protestantes e revolucionarias. O liberalismo católico é a heresia e a revolução que sob formas moderadas e com o manto de católico, se introduz no seio da Igreja (1) imitando o lobo da fábula, que com pele de ovelha penetrava livremente no redil. Deve, pois admirar-nos que o pastor [refere-se a Pio IX] levante o cajado para afugentar-lhe e sua voz para advertir o perigo?”
 

(1) Um ministro protestante de Genebra, o professor Bouvier, acaba de declarar explicitamente. Explicando ao seu auditório a razão pela qual o catolicismo liberal deve ser, como é, tão simpático ao protestantismo, disse estas textuais palavras: “Em nossa luta contra o catolicismo, o catolicismo liberal intervém armado ao mesmo tempo com o prestigio da antiguidade de suas doutrinas e com a novidade de seu espírito... O catolicismo liberal, em razão da atmosfera em que nasceu, pode por si só fazer a obra da reforma e de edificação vivificadora que empreendeu. A pureza do Evangelho não é recebida pelas massas católicas quando a entregam mãos protestantes, antes, ao contrário, esta só circunstancia basta para que seja repelida por suspeitosa. O catolicismo liberal tem a vantagem de encontrar melhor acolhida e de conseguir a curto ou longo prazo penetrar com segurança até o coração da praça que sitiamos. (La Iglesia libre, diario protestante de Niza , enero de 1874.)
Depois desta leitura, tereis animo para ser católico liberal? 

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Fonte: Ofrenda á los jóvenes católico-liberales. Barcelona: 1975, pp. 75-82.
Tradução: Fernando Rodrigues Batista

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