MONSENHOR LOUIS-GASTÓN
DE SÉGUR
(1820-1881)
A
doutrina católico-liberal, que em sua quintessência é a doutrina revolucionaria
de 1789, estabelece como princípio e como coisa senão excelente, quando menos
muito boa, a separação da Igreja e do Estado, a qual consiste na independência
absoluta da sociedade civil que não reconhece a lei divina, a religião revelada
e a santa Igreja. Jesus Cristo nos deu o Papa e os Bispos com esta missão: “Ide
e ensinai a todos os povos a observância de minhas leis. Eu estarei convosco
até a consumação dos séculos”. Os católico-liberais restringem esta missão aos
interesses privados de cada cristão em particular; negam ao Soberano Pontífice
e aos Bispos o direito de ensinar aos governantes assim como aos súditos, e o
de velar para que Jesus Cristo Reine, sem obstáculos, nas instituições públicas
e nas leis, dando desta maneira a conveniente direção às sociedades.
Por
fim a doutrina católico-liberal desconhece e altera profundamente as relações entre
a autoridade e a liberdade, tais como Deus as estabeleceu e conforme a sua
Igreja está encarregada de ensinar-nos e de proteger. Altera profundamente a
doutrina católica sobre a autoridade em proveito da liberdade, e esta é a razão
porque se chama liberal.
Segundo
a Igreja a autoridade é o poder ativo estabelecido por Deus para fazer
respeitar e executar a lei: segundo o catolicismo liberal, a autoridade é o
poder passivo encarregado de amparar com igual proteção a fé e a heresia, a
verdade e o erro, o bem e o mal. Com tal que não seja perturbada a ordem
material, não deve sair em defesa de Deus e contra o demônio.
Segundo
a Igreja, a liberdade é o poder concedido a todos e a cada um em particular de
cumprir sem obstáculos a vontade de Deus e seu próprio dever: segundo o catecismo
liberal, a liberdade é faculdade concedida a todos e a cada um, de fazer o mal
assim como se faz o bem com tal que não altere a ordem material.
Para
Jesus Cristo e sua Igreja, a autoridade é o poder que protege o bem e o faz
reinar: para o demônio e a Revolução, a autoridade é o poder que protege o mal
e lhe faz reinar; para os católicos liberais, a autoridade é um poder
indiferente ao bem e ao mal, a quem protege igualmente. De igual sorte para a
Igreja a liberdade é o poder de fazer o bem sem trava alguma; para a Revolução
é o poder de fazer o mal também sem travas, e para o catolicismo liberal é o
poder de fazer o bem ou o mal indiferentemente.
Assim,
pois, esta dupla noção de autoridade e da liberdade que tem a doutrina católica
e o sistema liberal, se manifesta ostensivamente em suas respectivas obras
influindo poderosamente na religião, na ordem social e política, na legislação,
na jurisprudência, na educação e na família.
E é por
isso mesmo que a doutrina católico-liberal se estende a tudo. Os erros que
contém produzem grave dano e suas consequências práticas são incalculáveis.
Desvirtua e falseia a noção essencial da autoridade e da liberdade, sobre cuja
noção descansam como sobre sua base a ordem religiosa, a ordem civil e a
doméstica por completo.
Em seus princípios se encerra o germe de uma
grande heresia; mas afortunadamente devemos esperar que a Santa Sede ou o Concílio
ecumênico, não tardarão em lançar raios de um vigoroso anátema sobre um erro
que despreza tantas advertências, e que tende nada menos que a servir de ajuda
à Revolução em sua obra de destruição universal.
Assim
é que a doutrina católico-liberal é uma alteração sistemática da verdade, da fé
e do direito: é uma alteração também sistemática das relações da Igreja com a
sociedade civil; e uma negação mais ou menos pronunciada do direito concedido por
Deus à Igreja de dirigir espiritualmente aos governos e as sociedades e de
inspirar as leis e as instituições publicas; é por fim uma alteração igualmente
sistemática da doutrina da Igreja sobre a autoridade e a liberdade.
(...)
O
que é o liberalismo católico? O que é o catolicismo liberal? É um sentimento
falso e perigoso; é um partido importante, ativo, empreendedor, que conspira de
fato contra a Igreja e contra a sociedade civil e serve, sem querer, à horrível
causa da Revolução; é uma doutrina falsa e muito perniciosa, geradora de
heresias e revoluções. O catolicismo liberal é o catolicismo manchado de
liberalismo com ideias protestantes e revolucionarias. O liberalismo católico é
a heresia e a revolução que sob formas moderadas e com o manto de católico, se
introduz no seio da Igreja (1) imitando o lobo da fábula, que com pele de
ovelha penetrava livremente no redil. Deve, pois admirar-nos que o pastor
[refere-se a Pio IX] levante o cajado para afugentar-lhe e sua voz para
advertir o perigo?”
(1) Um ministro
protestante de Genebra, o professor Bouvier, acaba de declarar explicitamente.
Explicando ao seu auditório a razão pela qual o catolicismo liberal deve ser,
como é, tão simpático ao protestantismo, disse estas textuais palavras: “Em
nossa luta contra o catolicismo, o catolicismo liberal intervém armado ao mesmo
tempo com o prestigio da antiguidade de suas doutrinas e com a novidade de seu espírito...
O catolicismo liberal, em razão da atmosfera em que nasceu, pode por si só
fazer a obra da reforma e de edificação vivificadora que empreendeu. A pureza
do Evangelho não é recebida pelas massas católicas quando a entregam mãos
protestantes, antes, ao contrário, esta só circunstancia basta para que seja
repelida por suspeitosa. O catolicismo liberal tem a vantagem de encontrar
melhor acolhida e de conseguir a curto ou longo prazo penetrar com segurança até
o coração da praça que sitiamos. (La Iglesia libre, diario protestante de
Niza , enero de 1874.)
Depois desta
leitura, tereis animo para ser católico liberal?
***
Fonte: Ofrenda á los jóvenes católico-liberales. Barcelona: 1975, pp. 75-82.
Tradução: Fernando Rodrigues Batista
Tradução: Fernando Rodrigues Batista
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